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Parece que nossa afinidade por uma boa dose de álcool remonta a épocas muito anteriores à invenção do happy hour, talvez até antes de nos considerarmos plenamente humanos. Surpreendentemente, a embriaguez não é exclusividade nossa; nossos primatas ancestrais já eram capazes de metabolizar o álcool há cerca de 21 milhões de anos. Mas não são apenas os primatas; do fundo dos oceanos com os golfinhos até as vastas florestas com os alces, o reino animal tem sua própria versão de uma celebração de sexta-feira à noite.
Adentrando o campo da etnobotânica, que estuda a relação histórica entre seres humanos e plantas, descobrimos que vai muito além da alimentação ou decoração de nossas casas. Ele adentra os antigos cofres de remédios e fontes de entretenimento, explorando o uso de plantas tanto para cura quanto para relaxamento.
Agora, vamos fazer uma viagem fascinante pelo tempo até os tempos dos berserkers vikings, conhecidos como os maiores festeiros de sua era. Esta narrativa nos leva a uma mistura intoxicante de psicodélicos e bravatas antigas, revelando os segredos por trás das lendárias habilidades de guerra dos vikings. Os berserkers, os verdadeiros "selvagens do norte", cujo nome provavelmente se originou do antigo nórdico para "camisa de urso" ou "sem camisa" (quem precisa de armadura quando se está sob o
efeito de cogumelos?), levaram a ideia de "viver como se não houvesse amanhã" a extremos, abraçando a batalha com a mesma contenção de uma criança em uma festa de aniversário.
A origem desses guerreiros consumidores de cogumelos ainda é um mistério para a história. Eles eram devotos seguidores de Odin ou uma espécie de unidade de forças especiais com um interesse peculiar em alucinógenos? O veredito ainda está pendente, mas é inegável que eram a alma da festa em qualquer campo de batalha. A possibilidade intrigante de que os cogumelos berserkers pudessem ter sido o ingrediente secreto em seu preparo para a batalha oferece uma reviravolta fascinante. Imagine um grupo de vikings robustos reunidos ao redor de um caldeirão, preparando sua mistura de batalha, todos ansiosos (literalmente) para se tornarem berserkers.
O que é o cogumelo Berserker?
Imagine-se diante de um cogumelo que parece ter saído diretamente de um conto de fadas, adornado com um elegante boné vermelho pontilhado. Este é o cogumelo Berserker, conhecido também por seu nome artístico, Amanita muscaria. Não se trata apenas de um simples fungo; é a suposta arma secreta utilizada no ritual pré-batalha dos guerreiros vikings. Com seus efeitos alucinógenos, este cogumelo tinha o poder de transformar a experiência de combate de um nórdico em algo semelhante a um espetáculo de rock psicodélico.
Mastigar este pequeno fungo vermelho poderia levá-lo a uma jornada mental incomparável. Estamos falando de experiências cinematográficas completas se desenrolando em sua mente, com efeitos especiais que incluíam distorções sensoriais e uma montanha-russa emocional capaz de transitar entre a alegria extasiante e o pânico digno de um filme de terror. Graças à sua combinação única de substâncias químicas, como o muscimol e o ácido ibotênico, este cogumelo tinha o poder de manipular os receptores do cérebro humano, agindo quase como um hacker em um cenário de ficção científica.
O Amanita muscaria, que é conhecido como o Cogumelo Berserker
Vamos retroceder um pouco. Os vikings não eram os únicos entusiastas; os antigos xamãs também utilizavam esses cogumelos como acessórios espirituais, adentrando os domínios metafísicos em suas cerimônias religiosas. A teoria sugere que os guerreiros vikings consumiam esses cogumelos para intensificar sua fúria e vigor durante o combate, transformando-se em uma espécie de versão ancestral do Hulk. No entanto, essa prática não era exclusiva dos brutamontes e valentões. O Cogumelo Berserker funcionava como um elemento de socialização, aparentemente apreciado por todas as faixas etárias, desde os mais velhos até as crianças, adicionando uma dimensão diferente às noites de jogos em família.
Apesar de sua popularidade, os registros históricos são um tanto obscuros, levantando dúvidas sobre a extensão dessa tradição alucinógena. Portanto, quando você imaginar um viking na próxima vez, não o visualize apenas com um capacete de chifres; talvez o veja também carregando consigo um estoque de cogumelos mágicos, pronto para celebrar como se estivesse vivendo no ano de 999.
O Ritual Viking do Cogumelo Berserker
Os vikings eram mestres no uso dessas substâncias alucinógenas em seus rituais e cerimônias. Imagine uma espécie de rave, porém com mais peles de animais e cânticos, com o intuito de alcançar um estado mental superior. Não se tratava tanto de vislumbrar dragões, mas sim de estabelecer uma conexão com os deuses por meio de um telefone cósmico. Falando em festividades, o Blót era o evento mais aguardado da temporada. Podemos considerá-lo como uma espécie de festival em busca de favores divinos - uma combinação entre um churrasco e um Kickstarter espiritual, onde os vikings ofereciam sacrifícios aos deuses em troca de uma colheita próspera ou de sucesso em suas incursões marítimas. Essa celebração frequentemente incluía o sacrifício de um bode ou porco, seguido de um banquete de carne, hidromel de qualidade e, é claro, uma rodada de cogumelos Amanita muscaria para preparar todos os participantes para as comunicações divinas.
O Amanita muscaria, conhecido também como o "cogumelo voador", talvez fosse o precursor do "soma" nas festas rave da época. Com seu chamativo chapéu vermelho e branco, esse fungo famoso era a escolha ideal para alcançar um estado de transe, tornando-se uma presença constante nas chamadas conferências divinas durante os rituais vikings.
Além disso, havia o Seiðr, uma forma de xamanismo praticada pelos antigos nórdicos. Conduzida pela seiðr-bruxa local, essa cerimônia equivalia a um retiro espiritual, onde os participantes podiam purificar suas almas, vislumbrar o futuro ou receber orientação celestial para problemas pessoais - tudo isso facilitado por uma generosa dose de psicodélicos para garantir uma conexão clara com o mundo espiritual. Desde tempos imemoriais - ou pelo menos desde que nossos antepassados habitavam as florestas -, os seres humanos (e nossos primos primatas) têm apreciado ocasionalmente uma bebida ou experiência psicodélica. Descobrimos que o reino animal também possui seus próprios festeiros da natureza, desde golfinhos que ficam eufóricos com peixes-bola até alces que se embriagam com maçãs fermentadas. Assim, o desejo ocasional de escapar da realidade não é apenas uma peculiaridade humana; é um fenômeno natural que ecoa através das eras e das espécies.
Diz-se que os vikings usavam os cogumelos para entrar em uma realidade psicadélica e eram imunes à dor
Adentre o fascinante campo da etnobotânica, uma disciplina que mergulha profundamente na relação entre os seres humanos e as plantas, explorando não apenas seu papel na obtenção de alimentos, abrigo ou matéria-prima, mas também na busca daquela sensação única e alucinante proporcionada pelo reino vegetal. Este campo de estudo lança luz sobre nossa longa história de interações com as plantas, seja para fins medicinais, recreativos ou uma combinação de ambos.
Os vikings berserkers, os guerreiros originais conhecidos por sua psicodelia pré-combate, podem ter sido impulsionados por algo mais do que simplesmente uma vontade insaciável de combate. Esses guerreiros, apelidados de "camisas de urso", possivelmente entravam em estados de transe de guerra através do consumo de substâncias naturais, o que poderia explicar sua lendária fúria no campo de batalha. Seria isso inspiração divina, um resquício de transtorno de estresse pós-traumático ancestral ou simplesmente uma poderosa mistura de ervas? A resposta ainda permanece indefinida.
A Amanita muscaria, repleta de ácido ibotênico e muscimol, é capaz de proporcionar uma jornada intensa e imprevisível, que varia desde alucinações até uma gama peculiar de sensações físicas, incluindo tremores, salivação excessiva e hipertermia. A teoria sugere que essa experiência poderia potencialmente desencadear o estado de fúria berserker. No entanto, uma reviravolta na narrativa nos apresenta a hensbane, uma candidata menos conhecida, porém igualmente impactante, para o título de substância preferida dos berserkers. Segundo o Dr. Karsten Fatur, um renomado etnobotânico, a hensbane (pertencente à mesma família botânica que batatas e tomates, mas definitivamente menos amigável à salada) pode ser a verdadeira responsável por induzir o frenesi de batalha dos berserkers, graças à sua própria combinação única de efeitos neurológicos, incluindo a estimulação da raiva.
No entanto, por mais tentadora que seja a ideia de vivenciar a experiência completa de um viking berserker, é importante considerar os efeitos colaterais indesejados do consumo de A. muscaria ou hensbane, que podem incluir desde desconfortos gastrointestinais até convulsões e até mesmo uma viagem indesejada para além da vida terrena (e não no sentido glorioso de Valhalla). Portanto, é prudente lembrar que a busca pela autenticidade histórica pode ser arriscada demais para uma recriação realista. Afinal, é muito mais provável que uma sessão de interpretação de papéis termine em uma visita ao pronto-socorro do que em uma jornada épica pelos mares do norte.
Mas a lenda dos Berserkers é realmente verdadeira?
Howard D. Fabing emerge como uma figura proeminente no campo da pesquisa médica, com uma carreira notável que abarca tanto a neurologia quanto a psiquiatria. Sua trajetória é marcada por realizações impressionantes, incluindo a prática privada em neurologia e psiquiatria, cargos anteriores como professor de fisiologia e neurologia na Universidade de Cincinnati, e um papel fundamental como diretor da Escola de Neuropsiquiatria Militar no Teatro de Operações Europeu durante a Segunda Guerra Mundial. As investigações de Fabing abrangem uma vasta gama de distúrbios neurológicos, desde parkinsonismo e narcolepsia até epilepsia e os efeitos da síndrome de concussão por explosão em períodos de guerra, além das terapias de choque e a neuroquímica subjacente a condições de saúde mental.
Apesar de sua vasta experiência nos campos neurológico e psiquiátrico, a incursão de Fabing no domínio da história escandinava medieval, especialmente em sua análise dos berserkers vikings, sugere uma incursão em territórios de pesquisa menos familiares para ele. Em seu artigo de 1956, "On Going Berserk: A Neurochemical Inquiry", publicado tanto em The Scientific Monthly quanto em The American Journal of Psychiatry, e baseado em uma apresentação na reunião anual da American Psychiatric Association, Fabing se aventura em uma análise histórica sem citar diretamente fontes primárias relevantes da Era Viking. Esse descuido sugere uma possível falta de familiaridade com documentos fundamentais da época - muitos dos quais estavam disponíveis em traduções na época, embora em um estilo de inglês arcaico que pouco se assemelhava a qualquer vernáculo histórico.
A história que vem de uma edição de 1910 da Encyclopedia Britannica tenta nos convencer de que os Berserkers eram os doze filhos heroicos de um homem chamado Berserk. Supostamente neto de
Starkadder, um personagem com a peculiaridade de possuir oito braços - não confundir com o Stark de "Game of Thrones" -, Berserk, como sugere seu nome, preferia enfrentar a batalha sem armadura, e seus doze filhos seguiam seu exemplo. Starkad, ou Starkadder, é uma figura presente em algumas das sagas nórdicas mais importantes, uma espécie de Forrest Gump das sagas, porém com mais combate e menos corrida. No entanto, a complexidade da trama surge quando nenhuma das versões de Starkad, jovem ou velho, menciona um neto chamado Berserk, o que lança dúvidas sobre a origem dessa linhagem lendária.
Howard D. Fabing em uma foto de arquivo
A trama se adensa com "The Saga of Hervor and Heidrek", uma narrativa tão intrincada quanto a barba de um viking após uma batalha. Nesta saga, somos apresentados a Arngrim, o pai berserk de doze filhos igualmente berserk, sem nenhuma menção direta ao nosso conhecido Berserk. No entanto, uma reviravolta digna de um drama diurno emerge quando uma versão alternativa da saga sugere que Starkad é o avô de Arngrim, acrescentando ainda mais complexidade à já intricada árvore genealógica viking.
A incursão de Howard D. Fabing na era viking pode ser comparada à navegação em um fiorde norueguês com nada além de uma banheira e uma imaginação vibrante. Ele nos conta uma história tão complexa quanto a barba de um viking, originada de uma amalgama de fontes que poderia deixar os puristas em desespero. Sem citar diretamente as sagas primárias, Fabing nos apresenta a teoria de que os berserkers possuíam sintomas que ecoavam uma recente expedição duvidosa em busca de cogumelos, ao invés de refletir um relato histórico confiável.
Fabing sugere que a raiva desses antigos guerreiros poderia ser alimentada por cogumelos tóxicos, uma ideia que ele afirma ter sido endossada por estudiosos escandinavos, com base em uma conversa pessoal com Henning Larsen. Apesar de Larsen ser reconhecido por sua expertise nos estudos ingleses e escandinavos, suas credenciais em farmacologia viking podem deixar a desejar. Essa teoria, embora provocativa, não é exatamente o tópico principal de discussões entre os estudiosos nórdicos contemporâneos.
A transição das práticas xamânicas siberianas para os campos de batalha vikings seria difícil de ser aceita até mesmo pelo mais habilidoso capitão de navio viking. Fabing estabelece paralelos entre a fúria dos berserkers e os efeitos observados nas tribos siberianas que consumiam Amanita muscaria, o famoso cogumelo de festa. No entanto, a imagem de um berserker dançando, cantando e conversando com inimigos imaginários no calor da batalha mais se assemelha a um festival de música psicodélica do que a um confronto temível.
Ao citar um caso de um indivíduo que consumiu inadvertidamente cogumelos alucinógenos, Fabing destaca os efeitos adversos como diarreia, sudorese excessiva, salivação aumentada e tontura, culminando em uma confusão mental e comportamento violento. Esses relatos ecoam as características associadas aos berserkers, sugerindo uma possível relação entre substâncias psicoativas e o comportamento desenfreado desses guerreiros.
O mito dos cogumelos Berserker
Ødman, em um momento de especulação brilhante, compara os berserkers aos amigos contemporâneos que insistem que não há problema em dirigir após consumir álcool, pois têm uma "técnica secreta" para permanecer sóbrios. A ideia central é que os berserkers possuíam um segredo botânico não revelado que lhes permitia controlar suas explosões de fúria, mantendo assim sua reputação na comunidade viking. Essa teoria, embora intrigante, carece de evidências concretas, já que não há menção direta nas sagas sobre o consumo de substâncias específicas antes do frenesi berserker.
Samuel Lorenzo Ødman, mergulhando nas profundezas da mitologia nórdica e do comportamento dos berserkers sem uma âncora, aventura-se em um território de especulação. Ele busca paralelos entre os relatos exóticos das tribos siberianas, que tinham o hábito de consumir cogumelos agárico-mosca, e o comportamento dos guerreiros berserkers. Ødman, com o fervor de um detetive encontrando uma pista escondida, propõe uma conexão entre essas tradições distantes e a fúria dos berserkers, baseando-se em uma interpretação criativa da mitologia nórdica.
Essa teoria, embora seja construída sobre uma estrutura frágil de conjecturas, também faz referência a ideias mais antigas, como as expostas por Snorri Sturluson, o historiador islandês medieval. Snorri afirmou que os deuses nórdicos eram, na verdade, refugiados de Troia, em uma narrativa que envolveu uma rota de migração através da Ásia. Essa interpretação, embora intrigante, é considerada altamente especulativa e carece de apoio sólido.
Samuel Lorenzo Ødman, que escreveu sobre os cogumelos Berserker
A teoria proposta por Ødman, sugerindo que a fúria berserker dos vikings era alimentada por cogumelos mágicos, parece mais um enredo de teoria da conspiração do que uma hipótese acadêmica digna de consideração. Construída sobre uma base frágil e carente de evidências substanciais, ela se apoia em relatos "históricos" que não resistiriam ao escrutínio acadêmico. A abordagem de Ødman é como tentar fazer um bolo sem os ingredientes básicos e insistir que ainda é um bolo simplesmente porque se acredita que deveria ser. Ele tenta contornar a ausência de evidências sólidas sugerindo que os vikings mantinham seus rituais secretos, uma explicação que carece de fundamento diante da natureza detalhista das sagas vikings.
Avançando no tempo, F.C. Schübeler ecoa as ideias de Ødman, sugerindo que o segredo dos berserkers era o cogumelo agárico, embora outras substâncias também fossem consideradas. No entanto, as evidências continuam a ser escassas. Howard D. Fabing também se junta à discussão, explorando os efeitos dos alucinógenos para replicar a fúria dos berserkers, mas os resultados parecem mais um dia de spa do que uma experiência de batalha. Sua tentativa de associar a fúria berserker a substâncias alucinógenas parece mais uma viagem relaxante do que uma explosão de violência.
A teoria do cogumelo mágico, portanto, permanece tão instável quanto os próprios argumentos apresentados. É um caso de selecionar partes que se encaixam na narrativa desejada, ignorando o registro histórico e esperando pelo melhor. Desde a justificativa precária até a confiança em histórias duvidosas, a teoria dificilmente seria aceita em um contexto acadêmico. Parece que a saga da fúria dos berserkers permanece
mais próxima das lendas do que de uma realidade embasada em substância.
Os vikings eram guerreiros ferozes, mas, ao longo dos anos, os fatos e a ficção se misturaram
Assim, se você se sentir inclinado a desvendar os enigmas do passado com suas próprias teorias, mantenha em mente: não se trata apenas das evidências que você possui, mas também dos segredos que outros podem estar ocultando. Quem sabe? Talvez os berserkers estivessem genuinamente envolvidos em sua própria reserva de plantas mágicas vikings.